Os textos de UMBERTO ECO que a seguir vão ler,
traduzidos por mim, Alfredo Barroso, dedico-os a todos aqueles que ainda
se atrevem a dizer que o movimento do CHEGA, chefiado por André
Ventura, não é fascista ou neofascista, é só um movimento demagógico
e populista de extrema-direita. Para que não acordem para a realidade
quando já for demasiado tarde, quando Ventura tiver encontrado em Rui
Rio um aliado como Hitler encontrou em Franz Von Pappen (que o ajudou
a dissolver a República de Weimar e a consolidar o seu poder), e em
Marcelo Rebelo de Sousa, um PR tão impotente como o marechal Paul Von
Hindenburg, Presidente da República de Weimar desde 1925 até à sua
morte em 1934.
Ora leiam:
- «Temos de velar para que o significado de cada um destes dois
termos [Liberdade e Libertação] nunca torne a ser esquecido. O
fascismo eterno está sempre em nossa volta, por vezes com disfarces
civis. Seria tão confortável que alguém avançasse pelo palco do mundo
e dissesse: 'Quero reabrir Auschwitz, quero que os camisas negras
voltem a desfilar pelas ruas italianas'. Pois é, mas a vida não é
assim tão simples! O fascismo eterno é susceptível de regressar sob
as aparências mais inocentes. E temos o dever de o desmascarar, de
apontar a dedo cada uma das suas novas formas - todos os dias, em
cada parte do mundo. Dou, mais uma vez, a palavra a [Franklin D.]
Roosevelt: "Atrevo-me a dizer que, se a democracia americana
deixasse de progredir como uma força viva, procurando dia e noite,
por meios pacíficos, melhorar a condição dos nossos cidadãos, a força
do fascismo cresceria no nosso país" (4 de Novembro de 1938).
Liberdade e Libertação são, portanto, um dever que nunca acaba. E tal
deve ser a nossa divida: “nunca esqueçamos”».
- «A intolerância mais perigosa é aquela que nasce na ausência de
qualquer doutrina, movida por pulsões elementares, É por isso que os
argumentos racionais não servem para criticá-la nem para travá-la. É
evidente que os fundamentos teóricos de 'Mein Kampf' são refutáveis
com uma bateria de argumentos bastante elementares, mas se as ideias
que [o livro de Hitler] propõe sobreviveram a todas as objecções é
precisamente porque elas se apoiam numa intolerância selvagem,
impermeável a toda e qualquer crítica»-
(...) « Toda e qualquer teoria se torna vã perante a intolerância
rastejante que ganha terreno dia após dia. A intolerância selvagem
baseia-se num curto-circuito categorial que ela empresta, desde logo,
a uma futura doutrina racista. Por exemplo: se Albaneses entrados em
Itália nos últimos anos se tornaram ladrões ou deram em prostitutas
(o que até é verdade), segue-se então que todos os Albaneses, sem
excepção, são ladrões ou prostitutas.
«Este é um curto-circuito terrível porque constitui uma tentação
permanente para cada um de nós: basta que nos tenham roubado uma mala
no aeroporto dum país qualquer para que se regresse a casa afirmando
que é preciso desconfiar das pessoas desse país.
«Aliás, a intolerância mais terrível é a dos pobres, primeiras
vítimas da diferença. Não há racismo entre os ricos: esses,
eventualmente, produzem doutrinas do racismo; mas os pobres
produzem-no na prática, que é bem mais perigosa.
«Os intelectuais não conseguem lutar contra a intolerância selvagem
porque, face à pura animalidade sem pensamento, o pensamento está
desarmado. Mas já é bastante tarde quando eles enfrentam a
intolerância doutrinal, porque, quando a intolerância se faz
doutrina, é demasiado tarde para a combater, e aqueles que deveriam
fazê-lo tornam-se as suas primeiras vítimas.
«E no entanto, é aí que está o desafio. Educar na tolerância os
adultos que se disputam uns com os outros por motivos étnicos e
religiosos é tempo perdido. Demasiado tarde. É que a intolerância
selvagem tem de ser combatida na raiz, por via de uma educação
constante que tem de começar desde a mais tenra infância, antes que
ela se inscreva num livro, e antes que ela se torne uma casca comportamental
demasiado espessa e excessivamente dura«.
NOTA: Este texto
foi escrito na altura do julgamento do capitão SS Erich Priebke, que
participou activamente, sob as ordens do major Kappler, no terrível
massacre das Fossas Ardeatinas (em Roma, a 24 de Março de 1944, e que
consistiu na execução de 335 reféns italianos, como represália a um
atentado cometido por "partigiani" da Resistência Italiana
que causou 33 mortos membros das SS; o cálculo feito pelos nazis era
o de fuzilar 10 italianos por cada SS morto, mas ainda foram
acrescentados nomes à lista inicial). Encontrado na Argentina, onde
se tinha refugiado, Erich Priebke foi extraditado em 1995 e julgado
em Roma por um tribunal militar que, em 1 de Agosto de 1996, o deu
como culpado de homicídio mas ordenou a sua libertação imediata por o
crime ter prescrito. Ora, o texto de Eco, do qual apenas traduzi
alguns excertos, foi escrito no momento dessa escandalosa sentença,
que suscitou uma enorme emoção em Itália. Entretanto, o Supremo
Tribunal de Justiça italiano anulou a sentença e, em consequência de
novo julgamento, Priebke foi condenado, em 7 de Março de 1998, a
prisão perpétua.
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1 comentário:
Que dizer?Alfredo Barroso E Umberto Eco estão certos.Resta-nos divulgar e ir desmistificando a besta.Abraço
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