ABUTRES
O Zoo de Lisboa comemora o Dia Internacional do Abutre expondo os seus exemplares, e nós
acompanhamos esta estimável instituição divulgando alguns dos mais vorazes da nossa extensa galeria. Juntamos o
extracto de um velho texto que nos parece a propósito.
Os abutres
Gosto de os ver, gola de penas na base do pescoço nu, grandes, calmos, certos de que o mais irrequieto dos seres é presa sua. Tudo questão de tempo!...
De grande acuidade visual, bico forte, distinguem
das alturas o alimento de que se nutrem: cadáveres em decomposição.
Ninguém mata um abutre. A sociedade protege-os,
são-nos úteis.
Falo-vos do abutre-preto ou pica-osso, um anjo ao lado dos outros: os viscosos, bem vestidos, mente desregrada,
vivendo da dor e da angústia, com o certeiro e glacial sentido do lucro.
Pululam pelas cidades, vilas, na mais pequena aldeia ou lugares. Dividindo entre si o
sofrimento alheio, apercebem-se à distância da lágrima retida, do íntimo soluço, do choro ou do lamento.
Não me refiro ao respeitável
cangalheiro, «pica-osso» por onde todos passaremos um dia, mas sim ao
traficante de influências que recebe por debaixo das tábuas do caixão o fruto da sua ignomínia. Usurpador de lugares públicos, escória de uma sociedade que
auto-promove as suas próprias exéquias.
Focos de gangrena num corpo social que vão
condicionando a própria vida ou morte da política que os gera.
Fragilizados somos na dor e na doença; a quem nos dirigirmos,
onde nos socorrermos
quando a angústia nos despedaça e
pesa?
O acesso ao trabalho, à saúde, a uma
velhice condigna são-nos
negados enquanto a burra dos banqueiros floresce.
O bolo gerado pela miséria é grande –
desemprego igual a salários baixos – a gula ainda maior. O resplendor dos cifrões
(continuemos a chamar-lhes cifrões) ofusca valores universais.
Ser solidário vem dando lugar ao salve-se
quem puder. Se puder!...
E enquanto a escória semeia o desânimo e a
resignação, nós não baixaremos
os braços repetindo à exaustão a mensagem que Francisco
Lopes nos sugere:
«É
preciso transformar desânimos
e resignações em esperança combativa. Confiem nas vossas próprias forças! Mobilizem a vossa vontade, energia e capacidades!
O futuro de um Portugal mais justo e desenvolvido está nas vossas mãos!»
Está nas nossas mãos!...
3 comentários:
À luta.
Os abutres sabem que isto já lá não vai sem cadáveres.
Um abraço,
mário
À luta.
Os abutres sabem que isto já lá não vai sem cadáveres.
Um abraço,
mário
Excelente texto .
É tão importante que o Povo reconheça o imenso poder de que dispõe!!!!!!
Um abraço.
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