«A nova Europa dividida num contexto internacional de incertezas. E nós? Jorge Sampaio alerta para a "tendência global" dos movimentos populistas, a propósito também da eleição de Donald Trump. Neste ensaio para o PÚBLICO, o ex-Presidente da República afirma que o "Brexit" constitui um "ponto de não-retorno" e que a própria Europa tem de travar a "corrida para o abismo".» (AQUI)
Os media, quando não sabem o que
dizer, encurralados sem encontrar saída, vão lestos à procura de nomes sonantes
que não dizendo nada encham páginas de coisa nenhuma. Mas… o mais instrutivo é
ler o “ensaio” para descer às profundidades do vazio.
Eis um extrato do “Ensaio” límpido como
cristal a “desbravar caminhos”:
«Ao optar por me debruçar aqui sobre
a “questão europeia”, chamemos-lhe assim, o meu objectivo não é trazer à
colação certezas e ideias feitas acerca da Europa, do seu passado e do futuro,
mas antes tentar desbravar um caminho de interrogações e perplexidades, que são
afinal as de um europeu convicto, que teima em continuar a sê-lo, mas que se
confronta com um conjunto de contradições, dilemas e perguntas para as quais as
respostas não parecem óbvias nos tempos que correm. Ou seja, e este é o meu
ponto de partida, as convicções outrora firmes que me acostumara a assumir como
premissas inabaláveis de um europeísmo esclarecido estão hoje, em 2016, algo
toldadas pela acumulação de dúvidas nascidas da confrontação com a realidade —
o tal reality check, como bem se diz em língua inglesa —, assim como
pela acentuada e generalizada erosão da confiança na Europa, no seu
funcionamento, na sua capacidade de cuidar dos bens públicos europeus e de
responder às expectativas dos cidadãos.
Linguagem de advogado em recurso ao
Supremo!
«Em suma, tentarei fazer nestas
páginas um exercício de militantismo europeu, na certeza de que a dinâmica do
capitalismo global, tal como se desenvolveu e se afirma no nosso tempo à escala
planetária, exige da Europa e dos países europeus a determinação de se
constituir como uma alternativa sólida, por um lado, à financeirização da
economia e, por outro, ao capitalismo autoritário de “valores asiáticos”, por
assim dizer. Se esta alternativa coincide com a União Europeia, tal como a
conhecemos hoje, ou se exige uma outra Europa, é uma questão que está em aberto
e cujos contornos aqui procurarei, precisamente, delinear.» Disse!
E continua: «À partida, direi, como posição de princípio, que é na fractura aberta
pelas insuficiências da actual Europa que importa trabalhar, mesmo se para tal
for necessário quebrar alguns tabus, colocar questões inconvenientes e formular
“hipóteses fora da caixa”.» Estão a ver? Quebrar tabus.
Só mais esta pitada de sal no
cozinhado:
«A Europa atravessa hoje, e que já
ninguém nega, tem raízes bem mais profundas, emaranhando razões, falácias e
demagogias, disfarçando disfuncionamentos e problemas que foram deixados para
trás sem que tivesse havido tentativas sérias de os resolver, a não ser através
da convocação de sucessivos grupos de sábios e da apresentação de relatórios
sobre o futuro da Europa, depressa deixados de lado…»
“grupos
de sábios” tão a comprender?
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