Era
a sua peregrinação anual, a jornada que lhe dava a magra jorna. Princípios de
maio, juntava-se ao rancho que ainda o sol vinha longe iniciava o plantio do
tomate, doze ou mais horas curvada, alguns cânticos de trabalho para amenizar o
sofrimento. A Servidão
Voluntária de
que nos fala o jovem Étienne de
La Boétie.
Em agosto quando da apanha do tomate a penitência atingia o seu
clímax sob uma canícula que lhe fazia perder o sentido de espaço e as visões
esbatiam a realidade. Tinha que pagar ao merceeiro que lhe havia fiado a
sobrevivência dos últimos meses.
Hoje
deslocou-se à Lezíria, o plantio é automático e até o trator guiado pelo GPS
dispensou o tratorista e já nestes últimos anos a colheita foi automática.
Voltou
para casa, ligou a TV e viu em todos os canais os peregrinos a caminho de
Fátima coadjuvados por um arsenal de massagistas, carrinhas de apoio e proteção
da GNR e outros meios de segurança. As televisões seguem-lhes o rasto, as
entrevistas puxam-nos à comoção.
NUNCA
AS TVs LHE APARECERAM NOS CAMPOS DE TRABALHO ONDE DESDE SEMPRE EXPIOU O CRIME
DE TENTAR SOBREVIVER.
1 comentário:
Pois...embora ambos os exemplos pertençam à mesma classe.Abraço
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