A bênção do desemprego

A bênção do desemprego

"Uma oportunidade para mudar de vida".

Quando da derrocada da indústria automóvel de Detroit que lançou milhares de operários no desemprego e arrasou por completo a cidade, surgiu em primeiro plano na intoxicação social o caso de um trabalhador que enriqueceu por ter imaginado um artefacto que eliminava os “bulbilhos” nas vestimentas de lã. O grande humorista Fernand Reynaud no sketch “Les lacets” faz-nos rir com a iniciativa do trabalhador não qualificado que começou por vender atacadores para sapatos à porta da fábrica até se tornar num grande industrial.

Neste momento – dados oficiais – há 200 milhões de desempregados, quatro vezes a população da França, 200 milhões de “oportunidades para mudar de vida”, pela nossa parte, mais de um milhão e duzentos mil portugueses foram contemplados com a oportunidade e bênção de entrarmos nesta nova cultura, a “cultura de risco".

 

"Estar desempregado não pode ser, para muita gente, como é ainda hoje em Portugal, um sinal negativo. Despedir-se ou ser despedido não tem de ser um estigma, tem de representar também uma oportunidade para mudar de vida, tem de representar uma livre escolha também, uma mobilidade da própria sociedade".

São recados que, rastejante, o PM deixa nos bolsos do patronato.