Fui buscar (aqui) ao "rei dos leittões) sem pedinchices
Já pedi coisas ao meu país que ele
me deu. Eu também já dei coisas mas foi à pátria. Nem sempre dou quando me
pedem mas não é por razões de coração, é por razões políticas. Não sou de dar
por dar.
Eu nunca tive brinquedos senão os
que eu fazia ou os que o tio tocha da carpintaria, que morava ao fundo da
ladeira onde eu vivia, me oferecia. Um dia, andei toda a feira agarrado à minha
mãe a pedir-lhe aquela camioneta de lata que vira numa tenda, a mulher não
aguentou a insistência, perdeu o amor à carteira - carvalho do chato do cachopo
que nunca mais se cala! toma lá e não me chateis mais que é o primeiro e último
que te dou!
Eu não emprestava a camioneta a
ninguém. Se os outros cachopos se apanhassem com ela na mão era certo e sabido
que a primeira coisa que lhe faziam era tirar-lhe as rodas. Nas minhas mãos
aquela camioneta durou anos porque foi o primeiro e último brinquedo de compra
que tive e só lhe tirava uma roda em caso de furo que fizesse parte da
brincadeira.
Aquela camioneta foi conseguida com
muita luta e outros meninos conhecedores da minha história conseguiram com o
exemplo outras camionetas, tratores, bolas, bonecas e até trotinetes.
Quando participo em marchas de luta,
levo sempre comigo uma razão de fundo de justiça social e dou sempre pela
falta de pessoas que conheço, sempre ativas em tudo o que é angariação de
fundos para isto ou para aquilo. Constato depois que essa gente não está na
mesma frente de combate, que o seu entendimento das razões da pobreza e das
suas soluções é muito diferente da minha.
E estou aqui eu com paninhos de
azeite, a enrolar o texto para não ferir voluntariosos cidadãos que pedem para
causas maiores, quando a minha vontade é registar que eu para dar não preciso
de mãos de terceiros e que, acima de tudo, estou farto de Peditórios, porra!
É à entrada e à saída do emprego e
lá dentro a colega irresistível, é à entrada e saída do supermercado e lá
dentro o produto com a esmola incluída no preço, é na feira, é na rua, é nos
semáforos, é o filho que traz umas rifas da professora de cidadania, é a
funcionária da escola a vender broches/crachás para uma turma que quer ir a
roma, é o cunhado que é sócio da associação columbófila, é a sogra da
conferência de são vicente paulo, a vizinha bombeira, é campanha, é sorteio, é
a santa de fátima, é o relógio para a igreja, é contra a fome, o cancro e a
cegueira, é pelas crianças, pelas mães solteiras e pelos idosos e, sobretudo,
por aqueles que não têm condições económicas para passar um natal feliz porque
o natal é economia, é dinheiro, é consumo, é uma porra, o natal é uma porra!
Vamos lá então fazer um natal em que
o povo vem à rua e reclama por um natal em que nunca mais seja necessário
pedir! Vamos lá, porra!
Ah não! Não pode ser! O natal é de
paz! Temos de nos dar bem com todos não é? O jesus é que diz!... porque o
natal, mais do que uma ocasião dos mais necessitados receberem alguma coisinha,
é a época em que se dá aos mais ricos a oportunidade de se redimirem,
organizando peditórios e quem sabe até largarem uns cobres.
Façam como os capitalistas, concentrem a atividade,
façam um império do ramo, cotem-no em bolsa - olhem a santa casa da
misericórdia! - façam um único e grande peditório porque já não há
paciência para tanta caridade natalícia.
1 comentário:
Uma crónica bem ao jeito do Rei dos Leittões!Inteligencia e humor não lhe falta.Abraço
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