Quarenta
anos, já sem subsídio de desemprego, há uma semana conseguira trabalho num subempreiteiro
que fornecia serviços a uma grande empresa, salário mínimo e direitos a
definir. A vala em que se encontrava ruiu por falta de estruturas, morreu no
mesmo dia de um seu homónimo, outro Belmiro, homenageado na Assembleia da
República; deixou dois filhos, a companheira doente e algumas dívidas. Dentro
de uma carteirinha de plástico encontraram o cartão de cidadão e o do seu
partido de classe com as cotas em dia. Os camaradas de trabalho cotizaram-se
para lhe pagar o funeral.
Aos
alemães é lhes reconhecida a racionalidade, disciplina e organização – no bem e no
mal – para que a sociedade funcione como uma máquina bem oleada e todos “vivam
bem e felizes”.
Michael
Hansen de 50 anos, desempregado desde 2005, mas cujo subsídio não chega para as
necessidades familiares, pede esmola junto a um centro comercial de Dortmund. Uma
empregada da Segurança Social, reconhecendo-o, enviou-lhe uma carta comunicando
que dado beneficiar de dádivas privadas, que os serviços calculavam em dez
euros diários, a sua subvenção mensal seria cortada em trezentos euros. Foi
ainda avisado que devia informar o valor exato das dádivas recebidas, e enviar
uma projeção desse rendimento para os próximos doze meses, e ainda que se
devia dirigir ao departamento comercial para aferir se a sua atividade era considerada como
“trabalho independente”.
Admitir
um salário de seis centos euros ao fim do mês como paga do trabalho de 10 horas
no fundo da mina, é aceitar a escravatura com a insensibilidade própria do
escravocrata.
Os
mineiros não cometeram qualquer crime para que cumpram tão vil veredito, não
nos extorquiram milhões e nunca nenhum governante os condecorou, são desprezados
pela ralé governativa.
ESTE
É UM DOS VÓMITO QUE ILUSTRAM A JUSTIÇA SOCIAL DOS AUTOCRATAS QUE NOS ESBULHAM.
“Trabalhar
10 horas no fundo do poço com um salário que ronda os 600 euros.”
Com início nos Estados-Unidos, todos
os anos na quarta sexta-feira de novembro, os grandes armazéns descem significativamente
os preços dos seus produtos, mas com stocks
limitados. Estas imagens permitem-nos aferir como esta sociedade dita de
consumo – a totalidade destas pessoas não têm acesso a estes produtos aos
preços de mercado – leva seres humanos a comportamentos que nos entristecem.
No
dia 28 de novembro de 2008 num Wal-Mart em Arkansas, no momento de abrir as portas,
um funcionário morreu espezinhado pela multidão enlouquecida.
Tal
como macaqueámos o Halloween, o Black Friday já nos está também a bater à
porta. Os povos são devorados nas sociedades ditas de ‘consumo’.