(Entre
as polícias políticas da América Latina, a coordenação da repressão passava
pelas máquinas da Crypto AG, rebatizadas de «Condortel»
Editorial LE COURRIER
VENDREDI 21 FÉVRIER 2020
BENITO
PEREZ
CRYPTO-FASCISMO
O caso Crypto
AG, nome da empresa que operou durante meio-século a partir de Zoug
em proveito da CIA, só surpreende pela escala e duração. Que a Suíça e a sua neutralidade
de fachada estivessem subordinadas aos interesses do Estado americano, constata-se
pelo menos depois da Guerra Fria. Reveladas no final do século passado, as
organizações helvéticas secretas P26
e P27 permitiram também, que o exército e o establishment político - o
mesmo que deu cobertura à Crypto – de colaborar com a OTAN com a maior
hipocrisia. Uma aliança transatlântica que não diminuiu desde então.
Se de forma alguma nos surpreende, o caso Crypto
(ou Rubicon, de acordo com seu último nome de código), no entanto, destaca
uma certa conceção suíça de neutralidade. Os documentos extraídos dos arquivos
da NSA,
desenterrados há alguns dias pelo Washington
Post, mostram também que as ferramentas de criptografia vendidas pela
empresa Zugoise foram usadas em
particular para rastrear os opositores das ditaduras da América do Sul em 1973,
particularmente através do famoso 'Plano Condor'.
Entre as polícias políticas (Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Paraguai e
Uruguai), a coordenação das operações de vigilância e repressão transitavam
pelas máquinas CX-52s
e depois pelas máquinas H-4605
da Crypto AG, rebatizadas de 'Condortel'... A caça orquestrada com o apoio
dos Estados Unidos custou a vida a várias dezenas de milhares de militantes de
esquerda. Sabemos agora que Washington podia acompanhar cada sequestro, tortura
e desaparecimentos em direto graças aos produtos made in Switzerland.
Um cenário sem dúvida idêntico ao do genocídio
dos comunistas da Indonésia, outro país cliente da Crypto AG.
Para Berna, a qual o Post
assegura que foi informada das atividades da CIA, a operação
Rubicon tinha apenas vantagens: além da publicidade em termos da excelência
tecnológica, a Confederação manteve uma neutralidade de fachada, mas favoreceu
concretamente os regimes conformes aos interesses económicos das suas elites.
Tudo sem sujar as mãos. Enfim... a história os julgará.
1 comentário:
Estes factos põem a nu a famosa "neutralidade" Suiça.Como se isso fosse possível num estado capitalista com as características tão evidentes na organização da sociedade suiça.Abraço
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