quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Um sopro no incenso

 

 Como o pensador viu a revolução das “flores”, e não só.

Eduardo Lourenço Paris, 2014.

«A revolução do 25 de Abril, a nossa revolução das flores, começa exatamente no momento em que a era das revoluções estava acabada na Europa, de maneira que tinham que haver aqui uma […] de último jardim zoológico da revolução que já não existia, e então o Sarte que anda sempre à procura do último país revolucionário que era a China e o Vietname que tinha acabado, Cuba não dava, a nova Cuba que estava aqui a preparar-se a ver este país, não viu nada, coisa nenhuma, viu sim uma espécie de uma festa, uma revolução festiva, uma revolução festiva quer dizer uma não revolução. Felizmente […] o 25 de novembro é ironia, uma revolução festiva foi sentida como uma libertação uma coisa sem saída e de que não tinha sujeito responsável a não ser o antigo regime na sua totalidade, inclusive o homem já tinha morrido ele não viu o fim dramático do seu próprio sonho, quem apanhou essa dramatizagem foi o Marcelo Caetano porque foi uma mistura de verdadeira revolução e de complô no sentido técnico da palavra, só os militares é que podiam fazer aquilo impunemente naquela altura. Ao fim de vários meses a comprar os jornais os franceses já estavam chateados, toujours les portugais. Só se falava daquilo.»